O machismo e o skate

Pin It

Aceitem amigos. O machismo infelizmente ainda está presente no skate.

E não é coisa pouca não! 

Ninguém me contou, esse caso aconteceu na minha frente. Era 2019, estavam rolando as classificatórias park feminino do STU em Sapiranga (RS). Não vou citar o nome, mas a menina veio no galeto e mandou um BS Air animal na nossa frente. E qual foi o comentário entre os três caras que estavam ao meu lado?

“Bah, tu viu o bundão dela?”

Sapiranga é um lugar bem difícil de andar, tanto é que os locais chamam a pista carinhosamente de Tarja Preta, ou Monstrão. E o comentário dos caras foi sobre a bunda da guria.

Isso, meus amigos, o machismo e o assédio, é só uma pequena ponta do que as gurias passam. Eu ainda vou voltar a este assunto mais vezes, porque um texto só não seria suficiente para expor/debater um tema tão complexo.

Porque não fica “apenas” nisso das gracinhas, cantadas e outros tipos de assédio, também há o descaso com as gurias nas competições.

Uma amiga, hoje skatista profissional, tem uma história sobre um campeonato onde sim, tinha categoria feminina. Isso nem deveria ser algo a ser comentado, deveria ser normal ter categoria feminina. Ou categorias. Mas a história segue com algumas bizarrices: no sábado, primeiro dia do evento, o horário que seria para as baterias femininas foi sendo prorrogado e prorrogado, para que os caras pudessem correr suas baterias, até que ao final do dia a “organização” (sim, assim mesmo, entre aspas) informou para as gurias que elas iriam correr somente no domingo.

Imagina a situação quem veio de outra cidade, preparada para correr no sábado, conforme o cronograma, e voltar para casa no domingo? O dinheiro gasto, a logística, passagens compradas... E fora todos os treinamentos, a preparação física e psicológica.

E no dia seguinte foi a mesma coisa… nada de horário definido para o feminino (para as que puderam ficar um dia mais), até que em certo momento liberaram a pista para as gurias aquecerem – enquanto rolava uma premiação de alguma categoria masculina – e quando vê, disseram para elas que aquele aquecimento já tinha servido como bateria e que as notas tinham sido dadas e precisavam da pista para os caras.

Falando em campeonatos e bizarrices, ainda tem as premiações: roupas tamanho GG, tênis 41, premiação em dinheiro bem menor que a dos caras – isso quando tinha!

Eu poderia gastar os dedos digitando mais exemplos, mas acho que já deu para ilustrar uma mínima parte do que ainda ocorre, né?

Em um universo mais local, no nosso dia a dia, acho que também já está na hora, ou melhor, já passou da hora de repensarmos nossas atitudes e nossas palavras.

Abandonar velhos hábitos, como querer elogiar uma menina dizendo que ela anda de skate que nem homem. Ou aqueles comentários tipo “Até que ela manda bem, heim? Pra uma guria...”

Também incluo aqui aqueles xingamentos ou “brincadeiras” com outros caras.

- Dropa logo esse quarter, deixa de ser mulherzinha!!!

Às vezes me pergunto: será que vale a pena dedicar meu tempo explicando pros caras que isso não é legal, que é ofensivo para as gurias?

Sim, porque em umas quantas vezes eu saí em solidariedade à alguma causa das gurias, tanto de amigas quanto de outras que eu nem conheço, e acabei me envolvendo em intermináveis discussões e tentando argumentar com caras que acabavam me “xingando” de gay, bicha, marreca (e este é outro assunto que vamos debater logo, logo!), achando que assim me diminuiriam e invalidariam meus argumentos.

Aliás, sabe o que esse povo machista, misógino, homofóbico, etc tem em comum? A falta de argumentos sólidos que se sustentem em uma discussão. Eles tentam ganhar sempre na força bruta.

Respeita as minas não é para ser só um bordão falado da boca pra fora. É algo muito sério, para ser seguido, vivido e espalhado sempre que necessário! Então, claro que vale a pena sim, sempre vai valer a pena fazer a coisa certa!

E no final das contas, tudo o que eu tenho a dizer a esses caras – que infelizmente ainda são muitos - é:

“Ande de skate como uma guria.”

Aposto que a maioria não aguentaria meia hora.

 



Max Rivera

Skatista oldschool, anda de skate por puro amor ao carrinho.

Criador da Lisco Skateboarding Co. e entusiasta do skate feminino. Vive o skate no seu dia a dia, entusiasta do skate for fun, antes de mais nada. Porque a base de tudo ainda é aquela session com a galera, a resenha, as risadas e a diversão.

A evolução e as tricks são consequência.

.