Rodrigo Malote

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Defina skate.

Skate pra mim, pessoalmente, foi a construção da minha identidade cultural. Aquilo que mais me ensinou a vencer barreiras, que me deu irmãos, que foi minha fonte de renda e que vai fazer parte da minha vida até o fim.

 

Campeonatos de skate?

Meu primeiro campeonato foi o da ladeira da morte em 1989, de amador II… Eu andava bem mas não tinha nível de finalista.

Depois engatei no circuito da Colina Abaixo (Paulo Coruja, Marcio Natividade) e fiquei um tempão correndo de Amador, até que, no campeonato da Tracker no Pico do Jaraguá. quando eu ia fazer a inscrição, me perguntaram em qual categoria eu ia correr e eu ia responder quando o saudoso Indião interrompeu e disse:

“Ah Maloteiro, não vai me dizer que vai correr de amador ?”

“Pode colocar ele no Profissional, ele já é profissional faz tempo”

E assim corri o Pico do Jaraguá, fiquem em 6 lugar ou 9, não lembro bem… Mas foi demais, levando em consideração os profissionais que eram, Indião, Yuppie, Maia, Ragueb Rogerio, etc…

Depois, no ano 2000 fundamos a ABRADS (Associação Brasileira de Downhill Skate) e fizemos alguns eventos, até criarmos uma seletiva “tropical” de Speed em Alphaville, que contou com a presença do então campeão mundial do Francês Manu Antuna.

Nesse campeonato muita gente forçou seus limites ao máximo, pois mesmos os skatistas do downhill e outros mais experientes , acostumados a andar no gás, tiveram que enfrentar o medo do drop naquela época.

Nesse evento em especial, a gente saia do gate com o impulso só das mãos, sem colocar o pé no chão, e ficava esperando o skate embalar…kkkkk…. O ruim nem era a velocidade final, era o psicológico. Fora que a gente tinha pouca referência sobre como usar a posição aerodinâmica, então a galera andava com os dois pés muito próximos. Lembro de dois tombos feios do Alexandre Maia e do Juliano Cassemiro, que caíram exatamente no mesmo lugar, por influência de vento lateral…(na verdade eu passaria muito tempo contando a história desse dia).

Depois, em 2001 o Maia foi correr o mundial da Red Bull na África do Sul e voltou de lá com muita informação, inclusive sobre o mundial da Áustria, o Hot Heels, que eu acabei indo correr em Julho do mesmo ano, junto com o Marcelo Bigardi e o André Preto. Eu fiquei em 23 e o Bigardi em 31 eu acho.

2002, fomos pra África do Sul, fiquei de fora das finais por 60 milésimos de segundo, mas o Maia e o Renato Reche foram os caras que arrebentaram e ficaram em 5 e 6 respectivamente. (Também vou parar por aqui porque tem muita, muita história).

2003,2004,2005 continuei indo pra Europa. Tinha campeonatos na Suiça, Alemanha, Áustria… E em 2005 o Douglas Dalua foi revelado pro mundo.

De lá pra cá muita coisa mudou pra mim, assumi responsabilidades bem sérias, de tanto gosta de gente, acabei tendo uma função de "cuidar de gente".

Hoje ninguém pode falar "cuida da sua vida", porque pra cuidar da minha vida eu preciso cuidar da vida dos outros ...rs .. Com isso não consegui continuar competindo, mas nunca parando de andar.

 

Por que skate?

Porque quem experimenta o skate pela primeira vez, não se contenta em andar uma vez só. Além disso, no meu caso, tinham os amigos, a moda da época, que combinava com a moda cultural daquela geração..

 

Skate é estilo de vida?

Eu acredito que sim, porque a gente vê pessoas fazendo de tudo pra simplesmente continuar se divertindo, seja competindo como amador, profissional, master, etc. E mesmo quando param de competir ou os que não competiam mas andavam bem, acabam continuando. O skate nunca é abandonado.

Além disso, a cultura do skate ensina a vencer a sí mesmo e torcer uns pelos outros. Talvez o fato de entendermos as dificuldades de cada manobra é que faz a gente celebrar com as pessoas até quando são “adversários” em campeonatos.

Talvez o downhill speed seja um pouquinho diferente nesse ponto, porque sendo corrida, vc precisa chegar na frente se quiser passar de fase.

Mas tem os casos de, numa corrida onde dois amigos competem na mesma bateria, um se sacrificar pra não derrubar o amigo (como fez o Juliano Cassemiro na África do Sul ao evitar derrubar o Maia, sacrificando a própria posição em favor do amigo).

Lembro de um campeonato em Alphaville que era julgado por surfistas, que não entendiam nada de skate em ladeira e deixaram o saudoso Marquinho Careca de fora das finais, nem colocando entre os 10. Aí o Maia ganhou e de tão injuriado, chamou o Marquinho no palanque e deu o troféu de primeiro lugar pra ele. Foi um exemplo do que o skate realmente significa.

 

Melhor coisa que skate te trouxe? E a pior?

A melhor foi justamente a primeira coisa, que foram os amigos, sem sombra de dúvidas, da minha época acho que a maioria eu tenho muito contato. Celebrei casamento de alguns, batizei filho de outros.

Além disso, o skate me deu uma profissão por um tempo, me deu identidade, me deu liberdade de expressão, me deu oportunidade de desenvolver o Inglês, de conhecer as pessoas que eu mais admiro, em especial o Christian Hosoi, de quem eu servi como motorista , cicerone, etc, por uma semana em SP. Imagina, vc conversar o dia todo com um ícone desse ? (tb vou parar aqui pq tem muita história engraçada dele que ninguém imagina).

A pior, foram as mortes dos amigos enquanto andavam de skate…As mortes precoces, as minhas lesões e fraturas que me atrapalharam muito a mobilidade pra andar, mas mesmo assim não me pararam.

 

O que fazer pelo skate?

Andar, se divertir, de preferência junto de outras pessoas e ensinar os outros a andar de skate ! Acho que isso por si só já ajuda muito.

Se possível ajudar a organizar campeonatos, porque apesar de muito skatista dizer que “odeia campeonato”, ele gosta de ser aplaudido quando acerta uma manobra num evento…rs… Além do mais, os campeonatos mostram pras pessoas a verdadeira essência do skate também, nessa questão de torcer uns pelos outros. Tá aí as olimpíadas pra ensinar isso pra outras modalidades… Diferentes países torcendo um pelo outro. Que outro esporte se torce por quem compete com você ?

 

Uma viagem que skate te trouxe?

Acho que as que eu citei antes, mas posso dizer que ir pra Europa e África do Sul junto com meus amigos foi uma experiência única.

 

Familia skateboard

De fato, somos uma família, a gente rí e chora junto, passa fome frio e também curte junto. Conhecemos os filhos e esposas uns dos outros, damos emprego e somos empregados por skatistas.

 

Skate ontem, hoje e amanhã.

Ontem foi história, hoje é a realização e amanhã será a evolução.

 

Que Deus os abençoe e os proteja a cada push !